O objetivo do Filosofia do Yoga é fornecer os meios cognitivos pelos quais podemos alcançar a autoafirmação existencial que nos é negada, seja através do materialismo científico ou do dogmatismo religioso, ambos característicos da nossa época.
O materialismo impossibilita o acesso a qualquer realidade que não seja “cientificamente verificável”, isto é, que não possa ser objetificada e medida através de experimentos universalmente replicáveis. Isso, é claro, amputa a existência da sua dimensão espiritual, única fonte possível da coragem de ser capaz de autoafirmar-se a despeito das ansiedades da morte, da culpa e da insignificação inerentes à condição humana.
O dogmatismo religioso, por outro lado, ao tornar Deus um ente entre outros (o “ente supremo”, no ápice da cadeia de entes) impossibilita o acesso direto à base da realidade e, por assim dizer, “mata” o próprio Deus ao qual pretendia dar acesso. Pois Deus é a base de tudo que é, o ser-em-si do qual nenhum de nós está, sequer por um instante, separado. Na religião, a coragem existencial que poderia ser universalmente derivada deste próprio fato de ser – pois o ser se afirma corajosamente em todas as experiências – é limitada a uma coragem de ser possível apenas para aqueles que creem na existência deste ou daquele “ente supremo”, do qual teremos a experiência direta (com sorte) somente na “outra vida”.
Não conseguimos efetivamente evitar uma espécie de ceticismo cínico e acovardado frente à existência se nos ativermos apenas ao quadro de referências materialista, e nem conseguimos evitar a dúvida nos atendo ao quadro de referências do dogmatismo religioso. O que nos falta é uma fonte de coragem existencial inegável, livre de dogmas ou da necessidade de comprovações advindas de autoridades externas a nós.
A revelação védica sobre o ser-em-si, o absoluto que é a natureza do ser consciente e que, portanto, é tão inegável e livre de disputas e necessidades de confirmação externa quanto o próprio fato de que “eu sou”, é uma fonte de vitalidade absolutamente necessária aos nossos dias, talvez até mais do que era para os vaidikas da época em que a própria atmosfera cultural fornecia os nutrientes básicos para a autoafirmação existencial do seu povo.
Primeiro, parabéns pelo texto, Luciano. Escrever com clareza já decorre de uma autenticidade, fruto de uma 'coragem existencial' viva e atuante. E você escreve, manifesta, indica e faz lembrar : " o 'eu sou' é uma fonte de vitalidade absolutamente necessária aos nossos dias". Estejamos juntos, unidos e protegidos ... 'saha na vavatu'...harih om